
Jesus, no Evangelho de Mateus, nos encoraja a orarmos e pedirmos a Deus Pai que nos conceda suas bênçãos. Por meio de uma série de perguntas, Ele nos incita a refletir e concluir que Deus, sendo um bom Pai, é muito mais generoso do que os homens que, mesmo contaminados pela natureza pecaminosa do mal, ainda são capazes de conceder coisas boas a seus filhos.
Lemos, em Mateus 7, versos 7 ao 12:
"Peçam e lhes será dado; busquem e acharão; batam, e a porta será aberta para vocês.
Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e, a quem bate, a porta será aberta.
Ou quem de vocês, se o filho pedir pão, lhe dará uma pedra?
Ou, se pedir um peixe, lhe dará uma cobra?
Ora, se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem?
Portanto, tudo o que vocês querem que os outros façam a vocês, façam também vocês a eles; porque esta é a Lei e os Profetas."
Cristo, nesta passagem, estava na Galileia e, sobre o Monte, pregava para uma grande multidão. Esta passagem faz parte do Sermão do Monte, onde Cristo pregou sobre vários assuntos, dentre eles, a necessidade da oração.
O verso que darei destaque para o assunto que vamos ver hoje é o 11, onde Jesus diz: "Ora, se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem?"
Esta é uma pergunta retórica, onde a resposta que Jesus espera é afirmativa, ou seja, Deus, sendo a própria referência de toda a bondade e de onde se origina tudo o que é bom, é muito mais generoso do que o homem natural. O homem natural, embora seja reconhecido como filho de Deus, pois Deus é mencionado como "o Pai de vocês", é tratado como mau, pois sua natureza ainda contém os traços da natureza pecaminosa. A regeneração da natureza pela obra do Espírito de Deus não aniquila a antiga natureza do homem, mas cria uma nova, com poder para subjugar as inclinações pecaminosas desta velha natureza, livrando o homem da escravidão e da incapacidade de resistir às inclinações da carne.
O ponto de reflexão que quero trazer é justamente o fato de haver um pré-requisito primário e fundamental para que possamos pedir e esperar em Deus a sua consideração, com confiança e fé que Ele, em sua misericórdia e soberania, nos dará tudo o que estiver alinhado com seus propósitos e sua vontade.
Este pré-requisito é justamente a relação familiar. Percebemos que, ao final, Cristo faz a comparação entre o homem mau e Deus, dentro de uma lógica de pedido entre filhos e pais, e entre pai e filho. São os filhos que pedem aos pais e são os pais que se dispõem a conceder aos filhos o que lhes pedem.
Observar este ponto é fundamental para que não nos esqueçamos de que Deus é generoso, de fato, mas que Ele também espera algo de nós. Ele deseja atender aos nossos pedidos, desde que estejam inclinados na direção da sua vontade. Esta inclinação da vontade humana, assim como dos pensamentos na direção de Deus e de seus propósitos, só é possível quando a natureza humana é liberta da escravidão do pecado. Esta libertação vem, primeiramente, por meio da operação que o Espírito Santo de Deus promove em nós. Segundo, pelo arrependimento verdadeiro pelos pecados cometidos e, por último, pela nossa fé (ou confiança plena) no poder Salvador de toda a obra de Cristo.
Ao sermos abençoados pela obra do Espírito Santo de Deus, que regenera nossa natureza, ao nos arrependermos de nossos pecados, nos comprometendo verdadeiramente a abandonar o pecado e a seguir Cristo como nosso Senhor, somos justificados por Deus e, desta forma, adotados como seus filhos.
Na carta de Paulo aos Efésios, o apóstolo nos diz que Deus nos deu vida, quando andávamos mortos em nossas transgressões e pecados. Segue nos dizendo que vivíamos segundo o curso deste mundo, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos, como filhos da ira. Nesta passagem, Paulo trata tanto de gentios quanto de judeus, pois usa termos como "vocês", referindo-se aos gentios, no verso 1, e "nós", fazendo referência aos judeus, no verso 3.
Nesta condição, ou seja, na condição de andarmos segundo as inclinações da carne e do pecado, não fazemos parte da família de Deus, ou seja, não somos filhos de Deus, mas filhos da ira.
João, no capítulo 1, versos 12 ao 13, nos dá o caminho para reverter essa condição. Ele nos diz que todos os que receberem Cristo Jesus, crendo em seu nome e tendo nascido de Deus, e não do sangue, nem da vontade da carne nem da vontade do homem, são feitos filhos de Deus. Contudo, seguir por este caminho não depende de nossa própria vontade, pois nossa vontade, sem a interferência do Espírito Santo, inclina-se para a direção contrária de Deus, ou seja, nossa natureza contaminada não nos permite seguir na direção de Deus sem que Ele mesmo nos atraia. Esta mensagem nos foi deixada pelo próprio Jesus, quando se dirigiu aos judeus em Cafarnaum, logo após deixar a Galileia. Jesus diz que ninguém pode ir a Ele sem que o Pai, que o enviou, não o atraia. Quando Cristo diz "ninguém pode vir a mim", está fazendo referência a receber o seu Evangelho e reconhecê-lo como o Messias, como o verdadeiro Filho de Deus. Receber o Evangelho e conhecer a Jesus como o Filho de Deus que tira o pecado do mundo demanda, primariamente, da obra regeneradora do Espírito de Deus.
Percebemos, desta forma, que há um processo que nos leva à garantia de podermos pedir a Deus e esperar com fé pela sua consideração e pelo recebimento de suas bênçãos. Este processo passa pela sequência indicada por Paulo, na carta aos Romanos, em seu capítulo 8, verso 30: predestinação, chamado, justificação e glorificação.
Na predestinação, temos o toque do Espírito Santo de Deus, que vivifica nosso espírito morto pelo pecado por meio de Seu chamado. O chamado eficaz de Deus é despertado por meio de ouvir o Evangelho de Cristo e recebê-lo com fé salvadora. A justificação, que nos torna filhos de Deus, se consuma pela fé em Jesus Cristo e, por fim, a glorificação, por meio do aperfeiçoamento, firmeza, força e fundamentação pela graça de Deus Pai.
Entender os caminhos de Deus e seus propósitos para nossas vidas é importante não só para que possamos viver uma vida alimentando nossa fé de forma positiva, sem nos deixarmos frustrar pela falta de conhecimento ou pela imaturidade espiritual, mas também para que possamos seguir dando graças a Deus, ainda que Ele não nos dê o que pedimos, pois sabemos que, para seus filhos, Ele sempre irá trabalhar para o bem, embora nem sempre diga "sim" aos seus pedidos.
Muitas vezes nos entristecemos nas negativas de Deus, nos questionando por que Ele não nos atende em nossos pedidos. Nos apegamos ao que a Palavra diz em Mateus 7, verso 11, nossa passagem de referência para esta pregação. Algumas vezes até duvidamos de que Deus esteja, de fato, nos ouvindo.
O que não fazemos é avaliar se estamos, de fato, em condições de pedir e esperar com fé pelas providências de Deus. Não avaliamos se estamos fazendo a sua vontade, atendendo ao que Ele nos deixou como missão. No verso 12 da passagem de referência, Jesus nos fala da Regra de Ouro da reciprocidade, ou seja, faça aos homens o que você deseja que façam a você. Esta passagem nos ensina muito sobre nossa situação frente ao que pedimos que Deus faça por nós e o que fazemos às pessoas ao nosso redor.
Portanto, devemos andar pelos caminhos do Senhor, obedecendo aos seus ensinamentos e buscando uma vida que ande na direção da semelhança de Cristo. Quando nosso coração e nossa natureza estiverem alinhados com estes pré-requisitos, podemos, enfim, pedir e confiar que Deus irá, de fato, considerar nossos pedidos e realizar o que for da sua vontade para nossa vida, sempre nos provendo tudo o que nos é necessário para uma vida boa, de paz, alegria, provisão e descanso. Devemos pedir a Deus que nos fortaleça o espírito para que sejamos capazes de cumprir com nossas missões de forma agradável ao Senhor. Devemos orar com fé, humildade e fervor para que este propósito seja cumprido em nós.
Que a paz de nosso Senhor esteja com você. Fique em paz.
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