
1Co 10:13 - Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele mesmo providenciará um escape, para que o possam suportar.
Paulo escreveu aos Coríntios duas vezes, como sabemos. Em suas duas cartas, Paulo fala à igreja sobre diversos problemas que estavam ocorrendo, não só dentro de suas dependências, como também fora. No capítulo 6, versos 9 ao 10 de 1Co, Paulo faz uma pequena lista desses problemas, dentre eles, idolatria, adultério, sodomia, avareza.
Apesar de a igreja de Corinto ter sido fundada há séculos, ela apresentava grandes semelhanças com nossa cultura atual. Corinto estava localizada na Grécia e era uma cidade onde a sexualidade e a busca pelo prazer sexual eram muito fortes dentro de sua cultura. No panteão grego, a deusa Afrodite, que era a divindade pagã do amor, motivava diversas práticas de culto, com rituais e cerimônias que envolviam atividade sexual dentro dos templos e até em locais públicos da cidade.
Essa cultura de pecado que tomava conta da cidade, como dissemos, era forte, com raízes profundas. Sua força era tal, que muitas das práticas pecaminosas que mencionamos acima eram praticadas dentro da igreja, como o incesto, por exemplo, condenado por Paulo no capítulo 5, verso 1.
Nossas igrejas, assim como a sociedade em que vivemos, podem não cometer muitos dos erros específicos que foram cometidos na igreja de Corinto, mas cometem erros dentro da mesma esfera, que é a esfera da carnalidade e da busca pelos prazeres mundanos. As tentações que a igreja de Corinto sofria são as mesmas que nossas igrejas e sociedade sofrem hoje. Exemplos de práticas que ocorrem em nossas igrejas atuais e que são semelhantes às praticadas na igreja de Corinto, no que diz respeito à semelhança de esferas, são a busca cultual por riquezas materiais, a busca pela fama, a busca pela glória do homem em detrimento da glória de Deus, o orgulho, o egocentrismo, a vaidade, a idolatria, a inclusão de ferramentas do mundo para engajar as pessoas por meio da sedução dos sentidos (olhos e ouvidos), falsas doutrinas cujo objetivo é engajar e angariar recursos.
Todos esses exemplos são expressões dos mesmos desejos carnais que orientavam a sociedade e a igreja de Corinto em suas transgressões, seja por parte de lideranças, membros, pastores, pregadores, ministérios.
Ray Charles Stedman, um pastor cristão americano, falecido no início da década de 90, disse:
"Quando uma igreja começa a refletir o espírito da época em que vive, deixa de refletir a Cristo. Ela deixa de ser santificada, separada e distinta da cultura. Quando isso acontece, a igreja perde o seu poder."
Bom, este era o cenário. Paulo fundou uma igreja em uma das cidades mais promíscuas da Grécia e, por conta dos grandes problemas que essa igreja passou a apresentar dentro da esfera da carnalidade, Paulo escreveu sua primeira carta. Na primeira parte dessa carta, o apóstolo aborda a esfera da carnalidade.
Neste ponto, nossa passagem de referência nos dá o ponto de partida para entendermos como Deus, pela capacitação do Espírito Santo, nos permite resistir às tentações, como aquelas da esfera da carnalidade, que tanto assolou os irmãos da igreja de Corinto.
Contudo, antes de falarmos da capacitação do Espírito Santo de Deus e de como podemos e devemos nos apoiar nessa força capacitadora para resistirmos às tentações e não cairmos em erro, vamos lembrar qual é o modus operandi do inimigo de Deus para nos fazer cair em pecados dentro dessa esfera da carnalidade.
O primeiro ponto de ação do inimigo para nos levar ao erro usa nossa capacidade de ver. É por meio dos olhos e do que eles veem que começa o processo de ataque. A primeira queda do ser humano, que resultou na entrada do pecado no mundo, iniciou-se pela desobediência. "Obedecer ao Senhor" foi o primeiro mandamento de Deus a ser quebrado pelo homem. Mas, para que a serpente pudesse convencer o homem a quebrar esse primeiro mandamento do Senhor, ela teve que usar uma estratégia. Essa estratégia usou os olhos de Eva como ponte.
Na passagem de Gênesis 3:6a, a Palavra do Senhor nos diz: "Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos...". Percebemos que a passagem, e o início da queda, começam com o verbo "ver".
Foi por meio dos olhos de Eva que a serpente ativou seu desejo interno. Depois de ver e sentir prazer no que estava vendo, Eva tomou uma decisão interna. Ela considerou:
"...a árvore desejável para dar entendimento..."
Um movimento interno começou a ser realizado. Os olhos de Eva estavam vendo algo, e esse algo influenciou sua alma, seu desejo interior, os desejos de seu coração carnal. Então...
"...tomou-lhe do fruto e então comeu e deu também ao marido, e ele comeu."
A partir daí, todo o mal se iniciou na humanidade. O pecado foi introduzido no mundo e o movimento interno que tomou conta de Eva, iniciado pelo contato dos olhos com algo desejável, passou a fazer parte da natureza humana, ou seja, os olhos do homem passaram a ser, de fato, o mais eficiente meio de entrada do pecado na vida do ser humano.
Mas não foi só Eva que caiu nessa estratégia. Séculos depois da queda de Adão e Eva, o inimigo de Deus continuou agindo e usando a mesma estratégia - ver, sentir e tomar para si.
No capítulo 6 de Gênesis, temos o relato da multiplicação do homem e de sua maldade sobre a terra. O capítulo inicia contando que os filhos de Deus viram as filhas dos homens sobre a terra. Para alguns, os filhos de Deus, nesta passagem, são os descendentes de Sete, ou setitas. Para outros, são anjos de Deus. Já as filhas dos homens são as filhas dos descendentes de Caim. Mas, independentemente da interpretação que se dá, é perceptível o início do problema.
O "ver" foi utilizado, novamente, como ponte. Em seguida ao "ver", os filhos de Deus consideraram que as filhas dos homens eram "formosas". Um movimento interno foi iniciado, levando-os a tomarem uma decisão. A tragédia já estava anunciada. Na sequência, eles "tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram."
A confirmação de que aquele movimento interno, iniciado em Eva lá em Gênesis 3, passou a fazer parte da natureza humana vem logo no verso 5, que diz:
"Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mal todo desígnio do seu coração."
A estratégia do inimigo mais uma vez produziu o efeito desejado. O homem caiu novamente e a ponte para sua queda foi, novamente, aquilo que os olhos viram.
Uma última evidência do uso desta estratégia e da sua eficácia é encontrada na vida do rei Davi. Sabemos que o rei Davi tomou Bate-Seba para si e nela foi gerado Salomão. Vamos relembrar como a estratégia do ver, sentir e tomar para si foi usada em Davi.
Em 2Sm 11:2a, a palavra de Deus nos conta o seguinte:
"Uma tarde, levantou-se Davi de seu leito e andava passeando no terraço da casa real; daí viu uma mulher que estava tomando banho..."
Percebeu o início? Davi primeiro vê. Na sequência, ele considera Bate-Seba "...muito formosa." O movimento interno é iniciado. O mesmo que tomou Eva, Adão e os filhos de Deus, lá em Gênesis. A partir daí, Davi, no verso 4:
"...se deitou com ela.", ou seja, tomou para si. Bate-Seba engravidou, Davi mandou matar Urias, seu marido, colocando-o na linha de frente da batalha que estava ocorrendo em outra localidade, Natã repreende Davi e Deus dá a sentença, no capítulo 12, verso 10, dizendo que "...não se apartará a espada jamais de tua casa..."
Assim como Eva, Adão, os filhos de Deus, de Gênesis 6 e Davi, outros grandes homens também caíram na estratégia do inimigo. A estrutura do ver, sentir e tomar para si foi utilizada muitas outras vezes ao longo da história e até os dias atuais.
Nós, e eu digo nós porque me incluo, por diversas vezes, deixamos de considerar os eventos e coisas que ocorrem ao nosso redor com a mente de Cristo, sob o ponto de vista de Cristo. Há em nós uma tendência, mesmo nos regenerados pelo Espírito Santo de Deus, a considerar tudo ao nosso redor a partir do nosso próprio entendimento. Aos não regenerados, essa tendência é ainda mais forte, tornando-se quase uma regra. A palavra do Senhor já orientava sobre este erro, nos tempos de Salomão, quando nos disse para confiarmos no Senhor de todo nosso coração e não nos apoiar em nosso próprio entendimento (Pv 3:5-6).
Esse entendimento que nos é próprio nos leva ao erro, ainda que nos pareça direito. Quando confiamos em nossa própria capacidade de discernir o que é bom do que é mau, excluindo Deus e o Espírito capacitador do Senhor, fatalmente somos levados por caminhos de morte. Nossos olhos abrem portas para um entendimento falso sobre o mundo e esse entendimento falso nos leva a tomar decisões erradas. Assim como Eva, assim como o rei Davi e outros.
Após a queda do homem em Gênesis, a natureza do homem não regenerado tornou-se pecaminosa e, sendo assim, tendenciosa ao erro. Tiago nos ensina que o homem é tentado por sua cobiça, própria da sua natureza caída, quando é atraído e seduzido por ela (Tg 1:14-15). Mas a cobiça de que Tiago nos fala não se resume ao desejo de obter coisas materiais. Ela se estende a tudo o que o homem considera como bom, agradável aos olhos e aos interesses pecaminosos. Tiago segue nos ensinando que, uma vez considerada a cobiça, a luz do pecado se acende, se consuma e produz morte. Uma morte espiritual que somente o poder de Deus pode reverter, por meio de Jesus Cristo.
Neste ponto, podemos pensar que, após a intervenção do Espírito Santo em nossas vidas, regenerando nossas naturezas e inclinando nossas vontades, pensamentos e ações para coisas do Espírito, como Paulo nos fala em Romanos 8:5-8, estamos blindados de cair em erros como os cometidos por Adão e Eva, Davi e outros.
Bom, meus amados, não estamos blindados. A obra do Espírito Santo de Deus em nossas vidas, nos fazendo nascer de novo em Cristo Jesus, nos liberta da escravidão do pecado, tornando-nos capazes de resistir às tentações do inimigo e vencer. Em nossa passagem inicial, 1Co 10:13, lemos que jamais seremos tentados além de nossas forças e essa é uma promessa de Deus para nós, como expressão de sua justiça e do empoderamento, frente ao pecado, que Deus nos dá como seus filhos. Seremos tentados hoje e sempre. Nossa fé será provada todos os dias, em todas as esferas (carnal, moral, ética, social, familiar). Assim como Cristo foi tentado pelo inimigo no deserto, nas esferas do corpo, alma e espírito, nós também seremos. Este processo faz parte da nossa vida cristã, já previsto e orientado pelo apóstolo Tiago, que ensinou que devemos considerar como motivo de alegria o fato de passarmos por diversas provações, pois assim, provamos nossa fé com perseverança (Tg 1:2-4).
Em nossa perseverança, alimentada pela obra do Espírito Santo em nós, Deus nos promete proteção, provisão e força. Cristo, no deserto, venceu o inimigo de Deus com a força da Palavra de Deus. A Palavra de Deus, como espada poderosa, também nos é dada para que, assim como Cristo, utilizemos como nossa espada frente às tentações. Ela nos orienta sobre o que é agradável aos olhos do Senhor, como conduta, assim como nos dá esperança em suas promessas. Em nossa passagem de referência, Deus nos promete que jamais permitirá sobrevir sobre nós tentação que não possamos suportar, assim como também nos promete que sempre nos dará uma porta de saída, um livramento, uma forma de lutarmos e vencermos as tentações.
No passado, Eva, Adão, Saul, Davi, Salomão, os reis de Israel e de Judá que vieram após suas mortes, os fariseus e saduceus, nos tempos de Cristo, Judas Iscariotes em sua traição, o próprio Pedro em suas três negativas de Cristo. Todos tiveram oportunidades de vencer a tentação do inimigo e seguirem firmes e fiéis ao Senhor. Muitos destes viram a porta de saída, o escape, o livramento de Deus, e não caíram na estratégia do inimigo. Muitos se arrependeram de terem caído e buscaram, ainda que caídos, a redenção do amor do Deus Pai e do Deus Filho. Assim como muitos, apesar de terem visto a porta, não caminharam em sua direção.
Para todos que receberam a graça do Senhor, a porta sempre está aberta. O livramento sempre disponível e a força para resistir às tentações sempre ativa e alimentada pelo Espírito Santo de Deus. Àqueles que não conheceram o Evangelho da Salvação, que não creem em Jesus Cristo e não estão livres da escravidão do pecado, Deus promete fazer o Evangelho chegar a seus ouvidos e, por meio do ouvir o Evangelho, serão vivificados em Cristo e tudo se fará novo.
Portanto, nesse momento, peço que você considere fortemente a orientação de Paulo aos Filipenses: que ocupe sua mente com tudo o que é bom e agradável aos olhos do Senhor. Tudo que é justo, puro e respeitável. Tudo que é amável, de boa fama e virtuoso. Agindo dessa forma, ainda que o inimigo coloque à frente de seus olhos algo incrível, com o objetivo de iniciar em você os mesmos movimentos iniciados em Eva, Adão, Davi e outros, você será capaz de discernir entre o bem e o mal e permitirá que as inclinações de sua natureza em Cristo falem alto ao seu coração e à sua mente, você verá os caminhos de saída e de livramento que Deus colocará à sua disposição e vencerá as tentações.
Peço que você considere o rogo de Paulo aos Romanos e apresente a Deus seu corpo, como representante de sua vontade, como sacrifício vivo, santo e agradável ao Senhor. Que não se conformem com as coisas deste mundo, ao contrário, que, pela graça imerecida de Deus Pai, transformem seus corações e mentes para desfrutar da boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Peço, ainda, que o Espírito Santo possa te alcançar e te fazer conhecedor do Evangelho de Cristo, o Evangelho da Salvação. Peço que Deus possa te atrair para Cristo, fazê-lo discípulo e alimentar em você a confiança de que Jesus é nosso Salvador, nosso Redentor e nosso Rei.
Por fim, se ainda não lhe foi concedida a graça do Senhor para que você se arrependa de seus pecados e volte seus olhos para o Senhor Jesus, que Ele derrame, finalmente, sua graça sobre você e que você possa vir a fazer parte da família de Deus.
Fique em Paz.
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